quarta-feira, 30 de maio de 2012

O que faço com esses humanos

As taxativas suposições podem desvincular almas...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Cadê os plural?


É só impressão minha, ou está cada vez mais difícil ouvir plurais ortodoxos? Aqueles de antigamente, arrematados com um ''s'' - plurais tradicionais, quatrocentões? Os plurais agora estão cada vez mais enrustidos, dissimulados, problemáticos. Cada vez menos plurais são assumidos. Os plurais agora precisam ser subentendidos.
Verdade seja dita: não somos os únicos no mundo a ter problemas com a maldita letra ''s'' no final das palavras. Os franceses, debaixo de toda aquela empáfia, há séculos desistiram de pronunciar o ''s'' dos plurais. No francês oral, o plural é indicado pelo artigo, e pronto. Ou seja: eles falam ''as mina'' e ''os mano'' desde que foram promovidos de gauleses a guardiães da cultura e da civilização.
Os italianos também não podem com a letra ''s'' no fim das palavras. Fazem seus plurais em ''i'' e em ''e'', dependendo do sexo, ops, do gênero das palavras. Quando a palavra é estrangeira, entretanto, eles simplesmente desistem de falar no plural: decretaram que termos forasteiros são invariáveis, e tudo bem. Una foto, due foto; una caipirinha, quattro caipirinha. Quattro caipirinha? Hic! Zuzo bem!
Os alemães, metódicos que só, reservam o ''s'' justamente a esses vocábulos estrangeiros que os italianos permitem que andem por aí sem plural. Com as palavras do seu próprio idioma, no entanto, os alemães são implacáveis. As palavras mais sortudas ganham apenas um ''e'' no final, mas as outras são flexionadas com requintes de tortura - com ''n'' (!) ou com ''r'' (!!), às vezes em conjunto com um trema (!!!) numa vogal da penúltima sílaba (!!!!), só para infernizar a vida dos alunos do Instituto Goethe ao redor do planeta.
Práticos são os indonésios, que formam o plural simplesmente duplicando o singular: gado-gado, padang-padang, ylang-ylang. Pelo menos foi isso que eu li uma vez. (Claro que não chequei a informação. Eu detestaria descobrir que isso não é verdade.) Já pensou se a moda pega aqui, feito aquele pavoroso cigarro de cravo? Os mano-mano. As mina-mina. Um chopps e dois pastel-pastel.
Nem mesmo nossos primos de fala espanhola escapam da síndrome dos comedores de plural. Os andaluzes e praticamente todos os latino-americanos também não são muito chegados a um ''s'' final. Em vez do ''s'' ríspido e perigosamente carregado de saliva dos madrilenhos (que chiam quase tanto quanto os portugueses), eles transformaram o plural num acontecimento sutil, perceptível apenas por ouvidos treinados. Em Sevilha, Buenos Aires ou em Santo Domingo, o ''s'' vira um ''h'' aspirado – lah cosah, lah personah, loh pluraleh.
Entre nós, contudo, a mutilação do plural não tem nada a ver com sotaques ou incapacidade de pronunciar fonemas. Aqui em São Paulo, a falta de ''s'' é um fenômeno sociocultural. Os pobres não falam no plural por falta de cultura. Da classe média para cima, deixamos o plural de lado quando há excesso de intimidade. É como se o plural fosse algo opcional, como escolher entre ''você'' e ''o senhor''. Se a situação exige, você vai lá e aperta a tecla PLURAL. Se a conversa for entre amigos, basta desligar, e os esses desaparecem em algum ponto entre o cérebro e a boca.
O que se deve fazer? Uma grande campanha educativa, com celebridades declarando que é chique falar os plurais? Lançar pagodes e canções sertanejas falando da dor-de-cotovelo causada por não usar ''s'' no final das palavras? Ou contratar um grupo de artistas alternativos para sair pichando nos muros por aí uma mensagem subversiva? Tipo assim: OS MANOS E AS MINAS.

(Ricardo Freire)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Após exatos 30 dias da postagem que fiz homenageando não só aquelas pessoas chamadas de professores como profissão, mas sim, para todos àqueles que um dia me ensinaram algo de valor, escuto uma colega de trabalho desabafar, desgastada pelo tempo de dedicação à educação em escola pública, mas principalmente pela falta de respeito da sociedade para com os professores, que foi chamada de "filha da puta" por estar em frente ao Palácio Piratini no último final de semana junto com um grupo numeroso de professores reivindicando um "verdadeiro" aumento do piso salarial.
Uma mãe, caminhando de mão dadas com sua filha, passa pelo local e diz em tom agressivo: -”Veja minha filha, o porquê de você não ter aula hoje, essa filha da puta está ai matando trabalho”.
Uma mulher de aparência elegante e jovial, que provavelmente têm uma profissão. Usa esse tipo de palavreado para "educar sua filha" enquanto nós professores reinvidicamos uma melhora nas condições de ensino, sobretudo, uma valorização da área da educação.
Veja bem, a luta dos professores não é somente uma busca por um salário justo, mas mesmo se fosse já seria motivo suficiente para tal. Os educadores querem que a sociedade pare de adoecer. As pessoas estão vivendo um emburrecimento e estão achando isso maravilhoso, os membros de uma família estão a cada dia que passa mais frios, distantes e individualistas, os profissionais a cada dia que passa mais desqualificados, vendo uma sociedade ser governada por gente que não sabe a tabuada, nem mesmo o nome completo da Presidenta da Republica – aliás, é uma mulher? – nem quantos estados há no país, e muitas vezes não sabem nem quantos assessores possui, imagine então perguntar a estes líderes políticos da nação, problemas de cunho social na área da saúde, da segurança, da mobilidade e etc. A mídia também faz seu papel...porque nessas porcarias telenovelísticas apresentam tantos problemas familiares e sociais, deficientes físicos, usuários de drogas, homofobia e nunca conseguiram elaborar um roteiro que denunciasse o caos que se tornou as escolas, um lugar que diga-se de passagem deveria ser quase que sagrado, perante sua importância para a saúde da sociedade, um lugar que já foi respeitado por pais, alunos e até mesmo governantes, pois todos eles por ali passaram. Tempo bom àquele que os professores ganhavam uma maça dos alunos e todos tinham desejo de aprender, época que o método de ensino era ríspido, mas que havia brandura nos seres humanos. Nessa época havia um brilho no olhar das pessoas ao ver suas antigas professoras na rua. As responsáveis por trazer-lhes tantos conhecimentos e momentos de descoberta.
Não há poesia no que lhes estou contanto, há apenas, fixo em minha memória as palavras ditas em alto e bom tom em frente ao Palácio Piratini: "filha da puta".
Os pais já não ensinam seus filhos que a hora da refeição é um momento para nutrir-se, não somente de comida, mas de afetividade, um momento em que a família se reúne para confraternizar, estão ocupados demais assistindo a TV ou em seus laptops e celulares. A família também não consegue ensinar para seus filhos sobre sexualidade, sobre carreira profissional nem mesmo sobre escolha das amizades, as palavras - bons costumes, ética, valores morais nunca são vistas pelas famílias. Sabe-se isso pois esses jovens estão lá, na escola, com as "filhas da puta", tentando-os ensinar isso e elas não conseguem. Só aprende quem quer aprender, é necessário encontrar uma motivação. Para que aprender esse monte de coisas se no lugar em que eles vivem isso não será utilizado, ou pior, será mal visto?
A sociedade se encaminha para o caos, não digo isso com olhar profético de catastrofes naturais, o caos intelectual dia após dia ganha força e consome com a possibilidade de termos uma nação autossuficiente, dinâmica, líder e justa. Estamos enfrentando uma guerra, silenciosa, sem sangue, sem corpos mutilados, mas com a morte da educação formal e informal. Um caos que prevê um grupo social apático, desunido e sem informação de classe, sem o mínimo de liberdade intelectual.
Não era bem esse o meu plano quando decidi ser professora, muito menos quando penso que um dia vou ser mãe também...lamento ser uma "filha da puta", quis parecer uma borboleta e me tornei um urubú.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Abaddon veio me buscar.
o que o faz pensar que estou pronta?
a despedida não pode ser assim tão vil
a partida tem de ter gosto de solenidade
não deve a morte ser uma repugna ao brio.


Veja bem,
Ainda tenho de me melindrar
na luz crua das esquinas vazias,
Assim como temer a ponta afiada das facas 
que fazem enrijecer os músculos,
e devo sentir a acidez do olhar inimigo 
que me devora viva.

Óh Ceifador Sinistro, sei que é teu dever
mas por hora estou muito atarefada 
para deixar que você se deleite 
na possibilidade de me matar.


Suas entranhas são de bronze
nas minhas, a carne é quente e cheia de vida
teu coração é de ferro
o meu bate acelerado.
Veja a dispariedade de nossas situações.


Nem por isso sois pior ou melhor...
Apenas somos diferentes.


Estamos acordados em um não desafiar o outro.
com todo respeito e resignência
peço-lhe que me permita, Thanatos,
desfrutar da brevidade da vida
pois terás minhas eternidade como recompensa.
A mim resta o pedido, pois a ti, o que podes exigir?
Ser poupado da morte?