quarta-feira, 9 de maio de 2012

Após exatos 30 dias da postagem que fiz homenageando não só aquelas pessoas chamadas de professores como profissão, mas sim, para todos àqueles que um dia me ensinaram algo de valor, escuto uma colega de trabalho desabafar, desgastada pelo tempo de dedicação à educação em escola pública, mas principalmente pela falta de respeito da sociedade para com os professores, que foi chamada de "filha da puta" por estar em frente ao Palácio Piratini no último final de semana junto com um grupo numeroso de professores reivindicando um "verdadeiro" aumento do piso salarial.
Uma mãe, caminhando de mão dadas com sua filha, passa pelo local e diz em tom agressivo: -”Veja minha filha, o porquê de você não ter aula hoje, essa filha da puta está ai matando trabalho”.
Uma mulher de aparência elegante e jovial, que provavelmente têm uma profissão. Usa esse tipo de palavreado para "educar sua filha" enquanto nós professores reinvidicamos uma melhora nas condições de ensino, sobretudo, uma valorização da área da educação.
Veja bem, a luta dos professores não é somente uma busca por um salário justo, mas mesmo se fosse já seria motivo suficiente para tal. Os educadores querem que a sociedade pare de adoecer. As pessoas estão vivendo um emburrecimento e estão achando isso maravilhoso, os membros de uma família estão a cada dia que passa mais frios, distantes e individualistas, os profissionais a cada dia que passa mais desqualificados, vendo uma sociedade ser governada por gente que não sabe a tabuada, nem mesmo o nome completo da Presidenta da Republica – aliás, é uma mulher? – nem quantos estados há no país, e muitas vezes não sabem nem quantos assessores possui, imagine então perguntar a estes líderes políticos da nação, problemas de cunho social na área da saúde, da segurança, da mobilidade e etc. A mídia também faz seu papel...porque nessas porcarias telenovelísticas apresentam tantos problemas familiares e sociais, deficientes físicos, usuários de drogas, homofobia e nunca conseguiram elaborar um roteiro que denunciasse o caos que se tornou as escolas, um lugar que diga-se de passagem deveria ser quase que sagrado, perante sua importância para a saúde da sociedade, um lugar que já foi respeitado por pais, alunos e até mesmo governantes, pois todos eles por ali passaram. Tempo bom àquele que os professores ganhavam uma maça dos alunos e todos tinham desejo de aprender, época que o método de ensino era ríspido, mas que havia brandura nos seres humanos. Nessa época havia um brilho no olhar das pessoas ao ver suas antigas professoras na rua. As responsáveis por trazer-lhes tantos conhecimentos e momentos de descoberta.
Não há poesia no que lhes estou contanto, há apenas, fixo em minha memória as palavras ditas em alto e bom tom em frente ao Palácio Piratini: "filha da puta".
Os pais já não ensinam seus filhos que a hora da refeição é um momento para nutrir-se, não somente de comida, mas de afetividade, um momento em que a família se reúne para confraternizar, estão ocupados demais assistindo a TV ou em seus laptops e celulares. A família também não consegue ensinar para seus filhos sobre sexualidade, sobre carreira profissional nem mesmo sobre escolha das amizades, as palavras - bons costumes, ética, valores morais nunca são vistas pelas famílias. Sabe-se isso pois esses jovens estão lá, na escola, com as "filhas da puta", tentando-os ensinar isso e elas não conseguem. Só aprende quem quer aprender, é necessário encontrar uma motivação. Para que aprender esse monte de coisas se no lugar em que eles vivem isso não será utilizado, ou pior, será mal visto?
A sociedade se encaminha para o caos, não digo isso com olhar profético de catastrofes naturais, o caos intelectual dia após dia ganha força e consome com a possibilidade de termos uma nação autossuficiente, dinâmica, líder e justa. Estamos enfrentando uma guerra, silenciosa, sem sangue, sem corpos mutilados, mas com a morte da educação formal e informal. Um caos que prevê um grupo social apático, desunido e sem informação de classe, sem o mínimo de liberdade intelectual.
Não era bem esse o meu plano quando decidi ser professora, muito menos quando penso que um dia vou ser mãe também...lamento ser uma "filha da puta", quis parecer uma borboleta e me tornei um urubú.

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